domingo, 17 de março de 2013

Hommage à la géographie ancienne

Cartulaire de mon coeur
paroles  du monde ancien
vieux  mots usés et sages qui  pour un temps m` aviez  fait compagnie
et si souvent  porté  secours
d´où me revenez - vous  ce soir?
bourdonnants , suspendus à mon cou
flamèches  ou abeilles
sur  l´ étoile  du prélat  défroqué

Mots du secret , du souci  et de l´ ombre
murmures , portée de rats , fourrure du souvenir
frileusement  nichés sur mes genoux
que  d` anxiété  dans ces brillantes  prunelles
qu `attendez-vous encore de moi?
voilà si longtemps  que nous  nous  sommes quités
 
 Il fait  noir  dans la cusine
 un  peu  d ´alcool  brille au fon  du verre
 tu  te tais  alors  qu  ´il  faudrait  que tu  hurles
 Judas des mots
 et tu  n`as  pas  fini  de payer  ton silence
  Genève , hiver 1977
 Nicolas  Bouvier

sexta-feira, 15 de março de 2013

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 Estar aqui  é como não estar aqui .
 No escuro onde as minhas lentas mãos modelam
 a pele deste ser vivo,
 o  universo ,
é da fina camada que cobriu
o seu vasto percurso ,
é  no táctil   roçar da sua vida
que  uma luz , é esta!, me transporta ,
 Pedro Tamen

terça-feira, 12 de março de 2013

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 A beleza  é um oceano
 Aonde  o olhar  se perde
 E regressa 
Transfigurado

 Alberto de Lacerda

sexta-feira, 8 de março de 2013

A uma velha pobre

 A Uma Velha Pobre

 mastigando uma ameixa  pela
 rua  com um saco de papel
 cheio delas na mão


 sabem-lhe bem
 sabem-lhe
 bem . Sabem-lhe
 bem.


 Vê-se  isso
 pela maneira como se entrega
 à metade  já chupada
 que tem na mão


 Confortada
 um gosto de ameixas maduras
 parece encher o ar
 Sabem-lhe  bem

 William Carlos  Williams



segunda-feira, 4 de março de 2013

O texto de Joan Zorro

 Levando  ao limite , homenagem, o gesto  da escrita , posso
                                                                   [ atribuir os meus textos
 a  joan  zorro . Existimos sobre o anterior . O movimento da
                                                                [ da escrita e da leitura
 exerce-se  a partir  da menor mutabilidade  aparente da pedra
 e da maior  mutabilidade da  grafia .  O processo dos textos
 é epigráfico.  Lápide  e versão , indistintamente.

 Fiama  Hasse Pais  Brandão  

sexta-feira, 1 de março de 2013

Duas Vezes


 Duas  Vezes
 Olho para todas as coisas
 Duas vezes :
 Uma para me alegrar
 Outra para  entristecer.

 As árvores  têm gargalhadas
 Na coroa das folhas
 E uma grande lágrima
 Na raiz
 O sol ainda é jovem
 No extremo dos raios ,
 Mas esses raios
 Estão cravados na noite.

 O mundo cabe todo
 Entre estas duas capas
 Onde fui amontando
 Todas as coisas que amei
 Duas vezes

 Marin  Sorescu, tadução colectiva ( Mateus , Abril de 1996)  revista , completada  e apresentada por  Egito  Gonçalves